15
ago

15/08 | sex | 19h | café filosófico cpfl ao vivo: Um panorama da medicalização na infância, Com Rossano Cabral Lima

  • 19:00

módulo: Medicalização fora de controle –  vivemos uma epidemia de transtornos mentais?

curadoria: Mário Eduardo Costa Pereira, psicanalista e psiquiatra. Professor titular de Psicopatologia Clínica pelo Laboratoire de Psychopathologie Clinique et Psychanalyse da Aix-Marseille Université, França. Livre-Docente em Psicopatologia do departamento de psiquiatria da FCM- UNICAMP, onde dirige o Laboratório de Psicopatologia: Sujeito e Singularidade (LaPSuS). Diretor do Núcleo de São Paulo do Corpo Freudiano – Escola de Psicanálise.

Transtorno de pânico, TOC, Bipolaridade, transtornos alimentares, autismo, déficit de atenção…  Nos últimos anos e de maneira crescente, estes e inúmeros outros termos da linguagem técnica da psiquiatria passaram a fazer parte das falas cotidianas das pessoas em geral. Estranhamente, são os próprios leigos que procuram ativamente nas referências médico-cientificas disponíveis os termos para definirem seus padecimentos psíquicos. A “fossa”, “a crise existencial”, “a dor de cotovelo”, “a dor de existir”, a angústia, o sofrimento e mesmo as “paixões devastadoras” deixam de ter importância nos processos de subjetivação das dores da vida. Espera-se cada vez mais da ciência a última palavra sobre os males emocionais, doravante descritos como “transtornos mentais”. Estes funcionariam como entidades naturais, absolutamente autônomas em relação a historia do sujeito, a seus conflitos, à cultura, às relações de poder e às tradições simbólicas e culturais. Nesse sentido, o diagnóstico tem uma incidência moral maior e, de certa forma, profundamente tranquilizadora: o sujeito e a sociedade passam a ser vitimas passivas do mal objetivo e exterior que lhes acomete, representado pelo transtorno mental. Ninguém estaria implicado na posição de sujeito do próprio sofrimento.

Sob essa perspectiva, a ação indesejada de condições mórbidas naturais, logo absolutamente alheias a nossa vontade, se imporia à existência e às sociedades. Diante do caráter absolutamente autônomo das forças natureza representadas pelos neurônios, pelos genes e pelos neurotransmissores, questões relacionadas à historia, à cultura, à politica, à ética, à responsabilidade individual e social, aos conflitos humanos e às tomadas de posição subjetiva perderiam, do ponto de vista teórico e prático,  qualquer sentido para a elucidação das “patologias psíquicas”.

Mas justamente a imensa proliferação atual de “transtornos mentais” como a insônia, o alcoolismo, a drogadicção, a ansiedade, os transtornos alimentares, a falta de atenção e mesmo a depressão não deveria por si só interrogar de maneira radical tanto a sociedade atual, tanto quanto os sujeitos que dela participam?

Uma consequência ainda mais perturbadora emerge dessa redução do padecimento psíquico a suas dimensões exclusivamente naturais: os diagnósticos psiquiátricos nunca funcionam como meras descrições passivas de estados mentais tidos como mórbidos. Na verdade, a linguagem médica, cada vez mais rapidamente assimilada à língua do quotidiano, termina por constituir e a formatar os destinos humanos. Disso decorrem questões algumas fundamentais: Quais as incidências sobre as crianças e sobre os demais sujeitos sociais em geral, de uma medicalização desmesurada dos fatos da vida? Que efeitos têm, por exemplo, sobre uma criança e sobre sua família os diagnósticos de “transtornos de déficit de atenção” ou de “transtorno do espectro autista”? De que dispositivos intelectuais e políticos a cultura deveria poder dispor para manter uma certa distância critica da maciça medicalização da existência verificada nas sociedades contemporâneas?

15/08 | sex | 19h

Um panorama da medicalização na infância

Rossano Cabral Lima, psiquiatra infanto-juvenil e professor Adjunto do Instituto de Medicina Social da UERJ

A proliferação de novos diagnósticos na psiquiatria infantil e juvenil deve ser alvo de investigação crítica, a partir de suas origens nos séculos XIX e XX. É preciso evitar que categorias diagnósticas sejam tomadas como resultado natural do avanço do saber médico, lançando mão do conhecimento oriundo da área das ciências humanas e saúde para apontar os fatores científicos, sociais, ideológicos que sustentam esse fenômeno e avaliar seu impacto na clínica, nas políticas públicas, na escola e na família.

Rossano Cabral Lima é psiquiatra infanto-juvenil. Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social da UERJ. Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com doutorado sanduíche no Instituto Max Planck de História da Ciência (Berlim, Alemanha). É autor do livro: “Somos todos desatentos? O TDA/H e a Construção de Bioidentidades”, publicado pela Relume-Dumara, em 2005.

módulo: Medicalização fora de controle –  vivemos uma epidemia de transtornos mentais?
curadoria: Mário Eduardo Costa Pereira
tema: Crianças transtornadas? A infância e a medicalização
palestrante: Rossano Cabral Lima
local: instituto cpfl | cultura (rua jorge figueiredo corrêa, 1632, chácara primavera, campinas – sp);
data: 15 de agosto de 2014;
horário: 19h;
capacidade: café filosófico: 180 lugares;
classificação etária: 14 anos;
transmissão online pelo cpflcultura.com.br/aovivo;
entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 18h. vagas limitadas;
informações: instituto cpfl  (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br;