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25/10 | sáb | 20h | música erudita contemporânea: Tortura e Transcendência, com regência de Paulo C. Chagas

  • 20:00

música sob pressão – a criação contemporânea no estado novo e na ditadura de 1964-1985

não é fácil viver sem liberdade. não é fácil criar sob risco. em ao menos dois períodos relativamente recentes da história brasileira, regimes de exceção aboliram as liberdades individuais, rasgaram as garantias constitucionais e os preceitos democráticos. primeiro, no estado novo getulista, nos anos 1930/40; depois, na ditadura militas entre 1964 e 1985. em ambos a música foi usada como ferramenta de propaganda quando conveniente. devidamente domesticada. e também reprimida.

resumir em quatro concertos a produção musical destes períodos é impossível. mas dá para apontar direções, mostrar sinais de resistência que floresceram na música dita de invenção, a música nova, ou contemporânea.

pode-se lamentar que villa-lobos tenha flexionado gentilmente sua coluna vertebral construindo um projeto coral para o estado novo de cores fascistas. mas devemos, por outro lado, comemorar que um compositor como paulo chagas coloque numa impactante criação musical a tortura que sofreu aos 17 anos, na década de 60, a mais repressiva da ditadura militar.

música para pensar. música para se conscientizar. música para purgar o passado e apontar para o futuro.

25/10 | sáb | 20h

Tortura e Transcendência

regência: Paulo C. Chagas

Núcleo Hespérides – Música das Américas

Intérpretes: Maria Lúcia Waldow (mezzo-soprano), Ademir Costa (barítono), Eliane Tokeshi (violino), Ricardo Kubala (viola), Ji Yon Shim Anderson (violoncelo), Rosana Civile (piano), Joaquim Abreu (percussão), vitor kisil (sons eletrônicos)

A música foi composta sobre texto de autoria do próprio Paulo C. Chagas, refletindo sua experiência de tortura na “geladeira” – um cubículo completamente escuro e frio, onde havia um sistema de alto-falantes embutidos nas paredes e nos tetos, usado para uma nova forma de tortura acústica – e sobre a tortura em geral. A tortura é associada à escuridão da ignorância, à dor e ao sofrimento da vítima da tortura, e à logística de violência e crueldade, simbolizada pela figura do torturador. Entretanto, mais do que um libelo contra a realidade desumana e degradante da tortura, A Geladeira propõe um movimento para superar a atual Idade da Tortura: como a luz radiante que dispersa as trevas, a doce melodia de uma música que vive não-cantada, ou o sorriso do canto de Paz.

Programa

Paulo C. Chagas (1953)

   – A Geladeira – oratório digital para meio-soprano, barítono, violino, viola, violoncelo, piano, percussão e sons eletrônicos.

Cenas de A Geladeira

– Introdução: a escuridão da inconsciência
– A eletricidade: máquina de meter medo
– Os ruídos: imersão nas vibrações caóticas
– O frio: sopro da morte
– A culpa: testemunhando a tortura de um ser amado
– A dor: sentimento de finitude
– As formas de tortura: a tortura invisível
– A paz: música que vive não-cantada

Paulo C. Chagas

Compositor brasileiro de reputação internacional, atuante no campo da música eletroacústica e tecnologias intermídia com obras significativas integrando eletrônica com música instrumental e vocal, escritas para orquestra, ópera, balé e grupos vocais e instrumentais. É doutor em Musicologia pela Universidade de Liège, Bélgica, e foi Diretor de Som do Estúdio de Música Eletrônica da Rádio WRD de Colônia, Alemanha. Desde 2004 é Professor de Composição na Universidade da Califórnia, Riverside, EUA, e atualmente chefe do Departamento de Música. Além de compositor, Paulo C. Chagas é autor de livros, artigos e outras publicações internacionais, e seu livro mais recente, Unsayable Music, desenvolve uma reflexão teórica, crítica e analítica sobre questões chaves da música contemporânea, incluindo música acústica, eletroacústica e digital, composição audiovisual e multimídia.

NÚCLEO HESPÉRIDES – MÚSICA DAS AMÉRICAS

Idealizada pela pianista Rosana Civile, a Associação Hespérides, também designada Núcleo Hespérides – Música das Américas foi fundada em 2002 e origina-se da proposta de alguns dos mais atuantes músicos brasileiros de reunir, preservar e divulgar a Música das Américas, especialmente a composta a partir do século XX, contribuindo assim para o resgate de parte das riquezas culturais das três Américas e Caribe, com a criação de acervo de partituras, gravações, livros e periódicos. O Núcleo Hespérides apresenta-se regularmente nas principais salas de concerto em todo o Brasil e vem recebendo, de importantes compositores brasileiros, obras escritas e dedicadas a ele. Esse estímulo à composição de novas obras é outro objetivo a ser apontado, assim como o incentivo a jovens talentos e a promoção de projetos educacionais e sociais que possibilitem o livre acesso às informações.

Em sua discografia, estão os CDs Luminamara – Música Contemporânea do Brasil, Retratos de Radamés (homenagem ao centenário de Radamés Gnattali, com patrocínio da Petrobras) e o CD duplo Sons das Américas, lançado em 2012 pelo Selo SESC-SP.

local: auditório umuarama | cpfl cultura (rua jorge figueiredo corrêa, 1632, chácara primavera, campinas – sp);
data: 25/10/2014
horário: 20h;
capacidade: auditório umuarama: 162 lugares;
classificação etária: 14 anos;
entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 19h. vagas limitadas;
informações: (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br;