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Podcast: Maria Rita Kehl e Inimá Simões – Homens em crise ou masculinidade em questão?

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Desde o final do século XIX, quando as mulheres começaram a questionar a relação estabelecida entre um suposto “eterno feminino” e o lugar que lhes era destinado, no epicentro da vida doméstica, como esposas dedicadas, donas de casa e mães de família, os padrões tradicionais de masculinidade foram afetados. O deslocamento promovido pelas mulheres, tanto na vida social quanto no que diz respeito a suas antigas limitações sexuais, deslocou os homens de seus lugares e de suas certezas a respeito do que é a masculinidade.

Se existe uma crise na masculinidade – crise que se manifesta tanto por meio da insegurança de alguns homens quanto por meio de um aumento preocupante de casos de violência doméstica – ela é tributária do antigo conflito entre as mulheres, tomadas uma a uma enquanto sujeitos desejantes, e o conjunto de atributos, limitações, estilos e papéis a que se convencionou chamar de feminilidade.

Ocorre que as mulheres, que representam pouco mais de 50% da espécie humana, não se moveram de seus lugares tradicionais sem abalar a suposta identidade da outra metade. Masculino e feminino são campos escorregadios que só se definem por oposição, sempre incompleta, um ao outro. São formações imaginárias que buscam produzir uma diferença radical e complementar onde só existem, de fato, mínimas diferenças. O resto é questão de estilo.

Em virtude desta estreita interdependência entre masculinidade e feminilidade, os organizadores deste ciclo – um homem e uma mulher – decidiram convidar homens e mulheres para discutir, em dupla ou individualmente, a crise da masculinidade na sociedade contemporânea. Pensamos que, se uma mulher não se assegura de sua feminilidade sem indagar o desejo dos homens e os fundamentos de sua diferença (por menor que seja) em relação a eles, o mesmo vale para os homens que se indagam a respeito dos significantes que sustentam a masculinidade, atualmente em crise. Não pretendemos com isso dissolver os estatutos dos tradicionais “clubes do Bolinha”, e sim promover a conversa entre homens e mulheres sobre as novas configurações da diferença sexual.